Durante todo o mês de agosto a ABP homenageia psiquiatras que foram fundamentais para a especialidade no Brasil e infelizmente, no último sábado, dia 17/08, a psiquiatria perdeu um de seus mais importantes nomes e a ABP perdeu um de seus maiores incentivadores. Desta forma o Orgulho de Ser Psiquiatra dessa semana não poderia homenagear outro nome.
Os textos publicados por Dr. Romildo Bueno eram famosos por sua qualidade, por isso a ABP republica o texto de sua participação no Orgulho de Ser Psiquiatra, escrito em 02 de agosto de 2013.
Leia seu depoimento na íntegra:
"Eu, João Romildo Bueno, mineiro de Cambuí no sul de Minas Gerais, 75 anos apenas vividos, pai de três filhos e avô de três netos jamais pensei ser psiquiatra, melhor seria aviador ou diplomata, algo que me permitisse andar pelos mundos sem ser percebido.
Sem me notar ou ser notado comecei como bancário, auxiliar-de-escritório, faturista, office-boy, cobrador-de-praça, revisor de jornal, tradutor de livros de bolso conhecidos como “policiais”.
A medicina, uma forma de exercer uma profissão digna e de ascender socialmente, chegou de mansinho, sem me dar tempo para fugir. Graduei-me como médico pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em dezembro de 1964, mas a partir do primeiro semestre do terceiro ano fui “agraciado” com bolsa do CNPq e passei a trabalhar com Lauro Sollero em farmacologia. A seguir, no segundo semestre do quinto ano ingressei no IPUB – Instituto de Psiquiatria – e quase sem saber porque, no ano seguinte, o professor Leme Lopes me colocou como chefe de Residência, mais ou menos um “síndico” do Pavilhão Maurício de Medeiros -PMM- onde os então interno-residentes deveriam morar com direito à chave, é claro. Era complicado: manhãs no IPUB e tardes na Farmacologia e com a obrigação de publicar trabalhos científicos para não perder a bolsa do CNPq. Os primeiros trabalhos saíram nos Anais da Academia Brasileira de Ciências e “pari passu” nos Archives Internationales de Pharmacodynamie, no British Journal of Pharmacology, sempre incentivado por Sollero e Paulo de Carvalho. Meu primeiro concurso na Universidade do Brasil foi em abril de 1965 e em julho do mesmo ano, com bolsa do CNPq e casado, encontrava-me no ISPI – Illinois State Psychiatric Institute, aí fiz outro concurso para o cargo de Medical Research Associate IV do Galesburg State Research Hospital onde trabalhei com Harold E. Himwich por dois anos e repetindo a mesma batida: pelas manhãs chefiava a enfermaria de pesquisa com 32 leitos e de tarde trocava o jaleco de médico pela roupa verde de pesquisador. Ah! para este exercício fiz a “State Board” para psiquiatria em Chicago e a repeti mais tarde em Nova York quando o Fieve convidou-me para participar de uma pesquisa no New York Psychiatric Institute da Columbia.
Voltei ao Brasil para fazer outro concurso, o de professor assistente, três anos após a docência e o doutoramento em medicina. Convidado por Leme Lopes e encorajado por Cincinato Magalhães Freitas acabei editor-chefe do Jornal Brasileiro de Psiquiatria, na época com um pequeno atraso de três anos. Editar uma publicação atrasada mas renomada, provocou que muitos dos então “colegas” torcessem o nariz por não me julgarem “psiquiatra”. Não passava de um “simples psicofarmacologista” ou quando partia para a agressão, um reles farmacêutico, como se nota “me fiz psiquiatra”.
Não sei a quantidade de artigos que publiquei nem guardei o número de cursos que ministrei ou menos ainda, quantos trabalhos apresentei em congressos aqui e ali. Meu curriculum vitae é uma bagunça bordelizada. Editei e fui da comissão editorial de um número razoável de publicações aqui, nos EE.UU, na França ou na Argentina. Cheguei a pensar que para o “Orgulho de ser Psiquiatra” organizaria o currículo, atualizaria a foto, mas nada fiz. Meu maior orgulho é o de ter contribuído para o crescimento da ABP e o de hoje é o de sorrateiramente entrar em grandes auditórios para ver e ouvir ex-alunos meus pontificando em sapiências e me ensinando algo novo, ainda que me esqueça de pegar o certificado de participação nos congressos para “provar” que lá estive. O melhor é o que virá, ainda não aconteceu..."
Buscando homenagear a contribuição do Dr. Romildo ao longo desses anos, prepara a atividade especial "Tributo a João Romildo Bueno" durante o XXXVII Congresso Brasileiro de Psiquiatria - CBP, que acontece nos dias 09 a 12 de outubro, no Rio de Janeiro. Associados da ABP podem participar enviando sua proposta de aula de até 20 minutos para o e-mail congresso@abp.org.br.
A ABP agradece o Dr. Romildo Bueno pelos anos de dedicação e trabalho incansável junto à Associação.
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